TÁBUAS DE CARNES : MÚLTIPLAS IMERSÕES SEM TRANSCENDENTALISMOS
ou
COMO FAZER O MUNDO EM CASA COM O QUE CASA
TÁBUAS DE CARNES é o que raramente podemos chamar, atualmente, de projeto original. Não se trata de se “descobrir” o suporte, extrapolá-lo ou conceituá-lo e, ainda, inventá-lo como orgânico à matéria que sustenta e expõe, como parte de uma ecologia (com suas hierarquias bióticas). Também não consiste somente na suposição da reciclagem ou da sustentabilidade, e utilizando matérias reaproveitáveis com uma nova função – estética que seja, ou de prática inusual – inaugurar uma transfuncionalidade...
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TÁBUAS DE CARNE é o desafio de fazer o visível com o invisível – com o que se tem à mão e não se tem por arte –; e, simultaneamente, compor o invisível com o visível. Daí que o que se produz não é simples arranjo material de lixo ou descarte, mas complexa narrativa conceitual, deduzidanarrativa literária e induzida narrativa de processos criativos, para quem sabe ler narrativas, para quem ainda sabe se impressionar com a vida e suas tênues falhas decifrabilíssimas pelos detalhes em que moram todos os demônios dos confessionários e os dos não confessados destinos...
Érico Braga Barbosa Lima





TÁBUAS DE CARNES : MÚLTIPLAS IMERSÕES SEM TRANSCENDENTALISMOS
ou
COMO FAZER O MUNDO EM CASA COM O QUE CASA
TÁBUAS DE CARNES é o que raramente podemos chamar, atualmente, de projeto original. Não se trata de se “descobrir” o suporte, extrapolá-lo ou conceituá-lo e, ainda, inventá-lo como orgânico à matéria que sustenta e expõe, como parte de uma ecologia (com suas hierarquias bióticas). Também não consiste somente na suposição da reciclagem ou da sustentabilidade, e utilizando matérias reaproveitáveis com uma nova função – estética que seja, ou de prática inusual – inaugurar uma transfuncionalidade...
TÁBUAS DE CARNES são a unidade das tábuas usadas para o corte – único, das narrativas -, em seus diferentes formatos de madeira, e também lanhadas como as carnes, pois que são elas que estão a contar histórias que se fazem história, ideia e matéria – todas integradas; e formando sentido somente a partir da leitura. As tábuas são a efetiva e toda linguagem, que objetos/peças da arte e leitores gramatificam. Senão, é somente assim que “Memória de um Serial Killer” – com um boné de mecânico fazendo sombra -, traz os retratos desbotados das vítimas, compondo cenário articulado, em que o macabro se faz da engrenagem entre as peças todas penduradas e a quarta parede, sendo a tábua tosca símbolo-e-personagem.
“Tsunami” arrasta brinquedos, como uma brincadeira na lama; e no dourado do acabamento – que transborda a moldura (sempre) –, nascem não híbridos, mas novos seres, para além dos arranjos previstos em combinações aleatórias. Em “O encontro”, é o próprio suporte que ocupa o espaço integral da matéria espiritual que se foca no título, afastando a boneca lindinha de tosca ingenuidade... do nada. O “Nascimento de genus” é espuma laboratorial sobre a lâmina feita espátula, e “aborto” é um pega varetas preto sobre a base vertical plástica fundida e imóvel, imobilizante e imobilizada: tudo objetos de casa, brinquedos, tudo dentro do ofício do metro quadrado, com algumas investidas a algum descarte do vizinho, mas de extrapolação privada. Sempre escasso – há aquilo.
TÁBUAS DE CARNE é o desafio de fazer o visível com o invisível – com o que se tem à mão e não se tem por arte –; e, simultaneamente, compor o invisível com o visível. Daí que o que se produz não é simples arranjo material de lixo ou descarte, mas complexa narrativa conceitual, deduzidanarrativa literária e induzida narrativa de processos criativos, para quem sabe ler narrativas, para quem ainda sabe se impressionar com a vida e suas tênues falhas decifrabilíssimas pelos detalhes em que moram todos os demônios dos confessionários e os dos não confessados destinos...
Érico Braga Barbosa Lima